Sempre houve muita controvérsia sobre a
origem do Pug. A verdade é que praticamente nada se sabe sobre
como, quando ou porque esses cães de focinho chato, pelagem curta
e cauda encaracolada vieram à existência. Há, no entanto, muito
poucas dúvidas sobre o seu local de origem: a China. Há boas
razões para acreditar que todas as raças de focinho curto, com
exceção do bulldog e os membros colaterais de sua família, tiveram
origem no oriente.
Duas hipóteses sobre o início da
formação da raça foram levantadas, mas hoje já são totalmente
descartadas. A primeira seria a crença de que os pugs descendem e
tornaram-se um tipo de mastiff pigmeu. Essa idéia provavelmente
surgiu do fato de que os primeiros pugs a chegar na Inglaterra
foram por vezes referidos como mastiffs holandeses. O único ponto
real de semelhança entre o mastiff e o pug fulvo é a cor e pelagem.
A estrutura dos crânios das duas raças varia enormemente e isso é
o suficiente para demonstrar que é muito improvável que o pug
tenha qualquer ligação com o enorme molossus, conhecido pelos
fenícios, de quem o mastiff, o alaunt medieval e o bulldog
descendem. O segundo engano é supor que o focinho curto do pug
tenha sido provocado por esmagamento ou danos aos
ossos nasais em filhotes. Obviamente, uma operação dessas afetaria
o indivíduo, mas não seus descendentes.
Criação seletiva não é novidade e tem
sido praticada por diversas razões há séculos. Cães de focinho
curto parecem ter sido conhecidos na China muitos anos antes da
era cristã, já que “cães de boca curta” são mencionados por Confucio (cerca de 551 aC). Registros do século I dC mencionam
cães, conhecidos como “pai”, que traduzido parece significar um
cão de pernas curtas e cabeça pequena, cujo lugar era debaixo da
mesa. Desse período em diante, uma série de imperadores parecem
ter tido interesse em cães pequenos, muitas vezes à custa de suas
funções imperiais. A única
forma de obter alguma idéia da aparência de cães chineses é a
partir de desenhos e pergaminhos. Estes, como a maioria das obras
de arte orientais, são extremamente estilizados, mas parece que
três tipos principais de cães pequenos foram destacados: o cão
leão, o pequinês e o lo-sze, e é desse último que os pugs
europeus parecem a descender. Imagens mostram que o lo-sze era
parecido com o pequinês, exceto por sua
pelagem curta e cauda sem
franjas. As cores variavam e a maioria dos cães tinham mais que
uma cor. Os principais requisitos físicos do lo-sze eram que eles
deveriam ser o menor possível, que a pelagem deveria ser curta e a
pele muito elástica, pois era essencial que ele exibisse a “marca
do príncipe”, que eram três rugas na testa e uma barra vertical,
formando assim o caracter chinês para a palavra “príncipe”. Uma
marcação (diamante) na testa era também muito apreciada. Um corpo
compacto, bons ossos e uma face plana, bem como um queixo quadrado
eram valorizados, e embora muitos dos cães tivessem suas caudas
encaixadas, o rabo enrolado, bem como a curva dupla eram todos
conhecidos e permitidos. As orelhas, comparadas por um escritor à
metade de um damasco seco, eram posicionadas um pouco mais para o
lado do crânio do que as do pequinês e outras raças similares.
Não há muito mistério sobre a migração
de pequenos
cães orientais para os países do ocidente. Houve comércio de seda e outras mercadorias entre a China e o mundo
ocidental já no tempo da dinastia Han (ano 200 aC). Relações
comerciais com Portugal foram abertas em 1516, com a Espanha em
1575, e com a Holanda em 1604. Pedro, o Grande enviou uma
embaixada à corte do Imperador K'ang Hsi (1662-1723), e está
registrado que o enviado chinês que foi convocado para dar as boas
vindas ao embaixador russo estava muito interessado em cães,
vários dos quais acompanhavam o embaixador, e um ou dois lhe foram
presenteados.
Em um nível mais prosaico, não há dúvida de que os
marinheiros de Portugal e Espanha estavam bem conscientes de que
as senhoras das cortes de seus países representavam um ótimo mercado
para cães de pequeno porte de uma nova raça.
O Pug chega à Europa
A referência mais antiga conhecida de
um cão, que pode muito bem ter sido o precursor do pug, confirma a
crença de que a Europa Ocidental conhecia o lo-sze antes dele ter
sido visto na Rússia. A
história deste pequeno cão, que salvou a vida de William, o
Silencioso, o Príncipe de Orange e, assim, alterou a história da Europa, é um clássico
na história do pug e aparece em “Relatos de Sir Roger William nos
Países Baixos”, publicado em 1618, e refere-se a uma incidente que
deve ter ocorrido entre 1571 e 1573. Na ocasião, houve um ataque surpresa
dos espanhóis sobre o acampamento holandês. O cãozinho em questão,
cujo nome acredita-se ter sido Pompey, acordou seu dono, antes de
qualquer um de seus homens, com arranhões, chorando e pulando em
seu rosto.
Embora o cão tenha sido descrito como um “pequeno
cão de caça branco”, pode-se considerar através de outras partes de sua
descrição, que na verdade se tratava de um ancestral do pug
moderno. Podemos, portanto, estabelecer com um razoável grau de
certeza que pequenos, cães de focinho curto que existiam na China
poderiam ter viajado do Oriente para o Ocidente nos séculos XVI e
XVII, e havia uma boa razão para sua popularidade na Corte de
William, o Silencioso e seus sucessores. É possível que tenha sido
neste período que uma criação cuidadosa e seletiva mudou o corpo
mais alongado do lo-sze para um cão mais compacto que,
eventualmente, recebeu o nome de pug. Durante os cem anos que se
passaram entre o reinado de William, o Silencioso e a chegada à
Inglaterra de seu bisneto, nada se ouviu sobre os pugs, exceto que
eles estavam sempre presentes na corte holandesa.
Durante os últimos anos do século XVII,
encontramos sinais da presença do pug em muitos países europeus,
como França, Itália, Saxônia e muitos dos estados alemães.
Originalmente conhecido na Holanda como “mopshond”, na França,
como “doguin” e frequentemente na Inglaterra como mastiff
holandês, não há certeza de como ou por que o nome “pug” começou a
ser usado nesse país. No entanto, as palavras “pug”, “pugg” e
“pugge” eram muitas vezes utilizadas para indicar afeto, e há
muitos exemplos de seu uso. A palavra pode ter alguma derivação de
“puck”, que era normalmente usada para indicar malícia ou maldade.
Pug era um termo aplicado a pequenos macacos muito populares como
animais de estimação nos séculos XVII e XVIII, e sem dúvida os
cãezinhos travessos de focinho achatado tinham algo em comum,
tanto em aparência quanto em comportamento com esses macaquinhos.
Na Inglaterra
William
e Mary levaram pugs para a Inglaterra quando chegaram em 1688.
Pouco depois, os cortesãos Ingleses e seus parentes não apenas se
apaixonaram pelos pequenos recém-chegados, como também acharam que
a posse de um deles seria uma maneira conveniente de expressar sua
aprovação a seus novos monarcas.
Nos anos que se seguiram, o pug se tornou um acessório
essencial para as senhoras que queriam estar na moda. Isso
continuou ao longo do século XVIII, atingindo seu auge na época de
George III. Pintores, muitas vezes nos deixaram um útil registro
da aparência dos cães do seu período, mas até o século XIX, temos
pouca evidência visual da aparência dos pugs. A exceção, é claro,
é o trabalho de Hogarth, que possuia um pug.
O Pug no Continente
A frequente menção de pugs sendo
levados para a Inglaterra vindos da Rússia e a dedução de que
muitos bons exemplares foram produzidos lá, e que eram vendidos a
um preço muito baixo no mercado, provavelmente tenha algum
fundamento, mas não há nenhuma evidência real para apoiar essa
tese.
A popularidade do pug na Europa Central
pode ser deduzida através da quantidade de imagens de pugs de
louça e porcelana que foram fabricadas, particularmente em Meissen.
Quando os maçons alemães foram excomungados pelo Papa em 1736,
continuaram as atividades ocultas sob o nome de "Mopsorden"
ou a Ordem dos Pugs. Um livro publicado em 1789 menciona duas
vezes Pugs na Itália. Na França, o pug era conhecido como a Carlin
desde o início do século XVIII. Carlin foi um ator que ficou
conhecido no papel de Arlequim, e o título refere-se provavelmente
à máscara preta usada
por ambos, ator e pug. Josefina, esposa de
Napoleão foi, sem dúvida, apaixonada por seu pug, Fortune.
Ela contava com a ajuda dele para
levar mensagens secretas sob
sua coleira para
o marido enquanto
ela estava presa em
Les Carmes.
Fortune deve
ter tido uma natureza
possessiva, pois
é dito que ele
mordeu o
futuro Imperador quando
ele entrou
no quarto em
sua noite
de núpcias.
Curiosamente,
temos muito pouca evidência da popularidade do pug na Espanha ou
Portugal, embora possam muito bem ter sido marinheiros e
comerciantes dessas nações os responsáveis pela vinda dos
primeiros pugs do Oriente.
Nas
primeiras décadas do século XIX, a popularidade do pug, sem
dúvida, diminuiu. Parece que pode ter havido várias causas para
isso. Não apenas pela inconstância da moda, mas aparentemente os pugs parecem ter se deteriorado, tanto em sua constituição, quanto
na aparência. Aparentemente houve alguns cruzamentos experimentais
de pugs com bulldogs, na tentativa de diminuir o tamanho desses
últimos. Muito provavelmente, alguns destes exemplares mestiços
foram vendidos como pugs. Com isso, aparentemente, o pug estava
correndo o risco de perder sua típica máscara negra, enquanto sua
pelagem estava ficando frequentemente áspera ou lanosa. Em outras
palavras, muitos pugs perderam suas mais atraentes características
físicas: a máscara negra e a pelagem curta, espessa e brilhante.
Os "pugs de pelo rústico" que causaram uma espécie de sensação no
final do século foram, provavelmente, reminiscências de um
ancestral mestiço nascido cerca de oitenta ou noventa anos antes.
No entanto, uma vez que as exibições competitivas de cães
iniciaram apenas em meados do século, os pequenos problemas de
características do pug provavelmente não afetaram a relação do
público com a raça, e pode-se presumir que, além a mudança na
moda, o caráter, inteligência e temperamento do pug deviam estar
em baixa na época. O Pug, porém, nunca permaneceu na
impopularidade por muito tempo e o renascimento do interesse na
raça logicamente coincidiu com o grande surto de entusiasmo pelos
cães e sua criação, que iniciou em meados do século XIX.
Após
a proibição do “bullbaiting” (luta contra touros) em 1835, começou
a haver uma procura por alguma forma das pessoas mostrarem a
superioridade de seus cães. Em 1859 as exposições de cães e
competições atraíram uma quantidade considerável de homens
proprietários de cães. Eles eram rudes, durões e realmente
competitivos, e havia muitas práticas desleais e malandragens.
Pedigrees, quando existentes, eram raramente confiáveis até que o
Kennel Club (fundado em 1873) se esforçou para registrar o pedigree dos cães e suas vitórias. Isso resultou
no primeiro “Stud Book”, que registrou os vencedores e seus
pedigrees em shows realizados entre 1859 e 1874. Cerca de 60 pugs
foram listados nesse volume. A influência do Kennel Club foi
crescendo através dos anos, à medida que a entidade era
responsável pelas exposições de cães, cuja quantidade estava
sempre aumentando, e ensaios de campo, sobre os quais assumiu o
controle. Com a respeitabilidade crescente das exposições caninas,
expositoras do sexo feminino se tornaram mais comuns, o que tornou
possível o retorno do gosto do público por raças como o pug. Duas linhagens
parecem ter dominado a primeira metade do século XIX. A mais
antiga foi a Morrison. Esta parece ter sido baseada no sangue de
cães reais, presumivelmente os da rainha Charlotte, esposa de
George III. A outra linhagem de destaque foi a do Senhor e Senhora
Willoughby d'Eresby. Nesta, linhas de sangue importadas (da Rússia
ou Hungria) foram empregadas para trazer a tão necessária melhoria
no tipo. Os cães criados pelos senhores Morrison e o Willoughby d'Eresby
foram os de maior importância a partir do ano de 1840. Até os dias
de hoje é bastante comum falar-se de um pug Willoughby (de pelagem
com coloração fulvo de tonalidades mais frias, com faixas escuras
largas, muitas vezes semelhantes a selas de cavalo nas costas,
corpo mais esguio e pernas mais longas) ou Morrison (pelagem
puxando para o damasco intenso, marcação nas costas de uma
tonalidade marrom claro, corpo mais robusto e compacto).
A
próxima, e talvez a mais importante infusão de sangue fresco, veio
da China. Diz-se que Lamb e Moss foram capturados no palácio do
imperador da China na década de 1860 e depois levados para a
Inglaterra (a história que se assemelha muito à do saque do
pequinês do Palácio de Verão em 1860). Estes dois cães foram os
pais de Click, que se tornaria um dos mais importantes pugs em
toda a história da raça e cuja influência foi tão grande, senão
maior, nos Estados Unidos do que na Inglaterra. O Pug Club foi
fundado em 1883 e logo estabeleceu um padrão para a raça. Em 1886
os pugs pretos começaram a ser seriamente considerados. Certamente
houve nascimento de pugs pretos antes disso.
Eles surgiam ao longo
do tempo em ninhadas de filhotes fulvo, mas eram prontamente
descartados. Um ou dois desses filhotes parecem ter escapado de um
trágico fim, pois Hogarth, sempre um amante de pugs, pintou um
deles em “A House of Cards”, de cerca de 1730. Também é sabido
que a Rainha Vitória possuía um pug preto que tinha forte
marcação de branco (imagem ao lado). Este cão pode ter vindo da China, e é certo
que quanto mais próximo um cão ou cadela era de uma ascendência
oriental, maior sua probabilidade de gerar filhotes pretos. No
final do século XIX a popularidade do pug estava mais uma vez em
declínio. O rival da raça foi primeiramente o lulu da pomerânia,
que posteriormente deu lugar ao pequinês. Quem estuda a história
do pug não pode deixar de ficar impressionado com a quantidade de
altos e baixos de sua popularidade, mas a raça tem tido sorte por
sempre ter havido uma quantidade suficiente de criadores
apaixonados, que foram mantendo suas características, de modo que
mesmo quando da raça esteve numericamente fraca, manteve sua
tipicidade e temperamento.
O Pug na América
Os
pugs desembarcaram pela primeira vez nos Estados Unidos logo após a Guerra
Civil Americana.
Em 1885, os pugs já eram exibidos em todo o país. O
American Kennel Clube Stud Books mostra que para os anos de 1900 a
1920, poucos criadores registraram seus pugs e algumas
exposições de beleza não tiveram a participação de exemplares da
raça. Foi
em 1931 que um grupo de criadores e expositores da Costa Leste
decidiram formar um Clube, o "Pug Dog of America" e em 1 de
dezembro de 1931 o clube foi formalmente reconhecido pelo American
Kennel Club.
O Pug no Brasil
Os primeiros exemplares da raça
chegaram ao país na década de 50, mas por anos a raça foi
considerada rara, cara e de difícil criação. Porém, os criadores
brasileiros começaram a melhorar a qualidade de seus cães com
importações mais significativas na década de 80. O pug começou a
ficar mais conhecido no Brasil no final da década de 90, através
da presença de uma exemplar da raça, a cadela Inès, na novela
Por Amor, de Manoel Carlos, exibida pela
Rede Globo
de Televisão. Em um dos capítulos, Inès se casa com
Fadul, pug dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai.
A partir daí, a quantidade de
admiradores da raça vem sempre crescendo. Porém, mesmo com o
aumento constante da demanda, os criadores sérios da raça não
deixaram de lado a qualidade de seus cães e vêm constantemente
melhorando seus plantéis com cruzamentos seletivos e importações.
Abaixo, mais alguns registros
antigos da raça:
Fontes: |
"The Pug"
-
Susan Graham Weall |
"The
Complete
Pug"
-
Ellen S. Brown |
"Pug" - Juliette
Cunliffe |
|